Sobre

Este blogue diz respeito à I Guerra Mundial (1914-1918), com destaque para o envolvimento de Portugal. E surge a propósito do primeiro centenário daquela que também ficou conhecida como a Grande Guerra, designação utilizada principalmente até à II Guerra Mundial (1939-1945), mas que ainda hoje se utiliza vulgarmente, como se todas as outras fossem pequenas, perante este conflito que durante quatro anos ceifou mais de 37 milhões de vidas nos mais diversos cantos do globo. Portugal não participou (ativamente) na segunda, mas fê-lo de corpo e alma na primeira e pagou um preço devastador, em vidas humanas e na vida política, social e económica nacional.

Embora a participação militar portuguesa no teatro de guerra europeu só se tenha iniciado em 1917, e embora tenha sido no Norte de França e na Bélgica que as lutas foram eventualmente mais encarniçadas, convém sublinhar que a I Guerra foi Mundial e que as forças armadas portuguesas começaram a combater em África logo em 1914 contra o exército alemão. Pouco se menciona, talvez pelos palcos europeus serem (naturalmente) mais mediatizados e próximos, mas foi em África que tombou a maioria dos soldados portugueses na I Grande Guerra. Estima-se que dos cerca de dez mil soldados portugueses mortos, "apenas" cerca de dois mil morreram na fente europeia. A Alemanha, recorde-se, era então uma potência colonial, com territórios próximos de Moçambique (Tanganica, actual Tanzânia) e de Angola (Sudoeste Africano Alemão, actual Namíbia); e os ataques e incursões germânicas às possessões portuguesas começaram logo no primeiro ano da Guerra. Também aqui, refira-se a título curioso, quase sempre com resultados favoráveis para as tropas alemãs. O facto é que já em setembro de 1914, seguiram para o sul de Angola os primeiros contingentes portugueses, no contexto da I Guerra.

O envolvimento mais marcante no imaginário histórico nacional foi protagonizado, no entanto, pelo Corpo Expedicionário Português: duas divisões de infantaria formadas em grande medida à pressa em Tancos e que operaram principalmente na zona da Flandres e sob tutela inglesa (visto estarem integradas no 1º Exército britânico). Juntamente com o menos expressivo Corpo de Artilharia Pesada Independente (força que ficou sob comando do Exército Francês), o CEP constituiu assim o grosso do esforço de combate português na Europa na I Guerra Mundial. 

Até 1918, foram mobilizados para os diversos cenários de guerra cerca de 200 mil soldados portugueses, dentre uma população que à época não chegava aos 6 milhões. Perto de 10 mil tombaram nos campos de batalha, nas campanhas de Angola e Moçambique e em confrontos como a célebre Batalha de Las Lys, na Bélgica, em abril de 1918: Essa manhã do dia 9 foi um desastre e milhares foram mortos e, sobretudo, feridos e feitos prisioneiros*. Nesse e noutros locais, muitas dezenas de milhares mais ficaram feridos, estropiados ou profundamente traumatizados pela experiência da primeira guerra verdadeiramente industrializada da história da humanidade.

O impacto deste conflito mundial no nosso país foi profundo e os efeitos tectónicos perduraram. As potências Centrais foram derrotadas e submetidas a humilhantes condições de rendição em Versailles, mas Portugal, como força Aliada, não teve tempo nem espírito para festejar muito efusivamente. Arruinado e politicamente caótico, Portugal assistiria a partir da sua entrada na Guerra a um período de graves convulsões, que desembocariam na mudança radical de regime, em 1926. O fim da I República começou aqui, com todas as consequências que hoje conhecemos, com o Estado Novo e Salazar à cabeça.

Contra o esquecimento, este blogue, como tal, pretende assinalar e trazer luz sobre este evento importante da nossa História nacional e universal. Até 1918, procuraremos compilar, organizar e divulgar a mais diversa informação, como ensaios, imagens, arte, notícias, efemérides, vídeos e documentários, livros ou artigos, outros blogues ou websites, ou qualquer outro conteúdo que de alguma forma esteja relacionada com o tema em epígrafe.

O meu nome é João P. Cruz e sou amador de História e de Estórias, podem conhecer-me melhor aqui. Este é um projeto dos tempos livres de um cidadão interessado que nos intervalos de ser pai e profissional (aqui), entre outras coisas, cria e edita conhecimento (como este).


*«As tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha na madrugada e manhã de 9 de Abril, teriam registado milhares de baixas, entre mortos (1341), feridos (4626), desaparecidos (1932) e prisioneiros (7440)[1] . De acordo com estudos recentes, porém, esses números estariam muito inflacionados. Segundo um autor, em La Lys ter-se-ão registado apenas 423 mortos portugueses (de um total de 2086 mortos do Corpo Expedicionário Português em 1917-1918) e cerca de 6000 prisioneiros [2] . Outro autor refere apenas 300 mortos e 6000 prisioneiros portugueses em La Lys.[3]» (fonte)


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